Cientistas acharam evidências do evento extremo que ocorreu em 660 a.C. — e alertam que não estamos preparados caso algo dessa magnitude aconteça de novo
Por A. J. Oliveira
O Sol é um pouco como uma montanha-russa. Tem altos e baixos. Em certos períodos, está bem tranquilo; em outros, apresenta intensa atividade, com explosões que arremessam grandes quantidades de partículas de alta energia pelo Sistema Solar. Quando a Terra dá o azar de estar no meio do caminho, ocorrem as chamadas tempestades solares. Nos últimos 70 anos, cientistas têm monitorado esses eventos em tempo real. O mais violento deles acaba de ser descoberto: ocorreu no passado, mais de 2,6 mil anos atrás.
Uma equipe internacional liderada por pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, analisou amostras de gelo coletadas na Groenlândia. Elas contêm material formado nos últimos 100 mil anos — e guardam registros de tempestades solares do passado. No estudo, publicado na última segunda-feira (11) no periódico PNAS, os cientistas descrevem a descoberta de uma tempestade solar violentíssima que ocorreu no ano 660 antes de Cristo.
Nessa época, a democracia ainda nem havia sido inventada em Atenas, na Grécia Antiga. Outras pesquisas revelaram que fenômenos parecidos aconteceram nos anos 775 e 994 da era cristã, mas nenhum deles com tamanha intensidade. Mesmo tendo ocorrido há muito tempo, a megatempestade solar, terceira a ser documentada indiretamente por indícios na natureza, causa preocupação aos pesquisadores.
“Se tivesse acontecido hoje, os efeitos seriam severos em nossa sociedade high-tech”, disse em comunicado o geólogo Raimund Muscheler, um dos autores do artigo. Apesar de não representarem um risco direto à nossa vida, esses eventos são péssimos para tecnologias das quais somos muito dependentes. Rede elétrica, sistemas de comunicação, satélites, tráfego aéreo: tudo isso e muito mais pode acabar comprometido pelas partículas de altíssima energia lançadas em uma tempestade solar.
Em tempos recentes, esses fenômenos causaram apagões em Quebec, no Canadá (1989), e em Malmö, na Suécia (2003). Se episódios menores já provocam estragos, algo com a proporção daquilo que ocorreu em 660 a.C. seria um verdadeiro desastre. E, segundo os pesquisadores, não estamos preparados tecnologicamente para lidar com isso.
“Nossa pesquisa sugere que os riscos atualmente são subestimados, precisamos nos preparar melhor”, afirma Muscheler. Como a própria história nos conta, cedo ou tarde o Sol manda grandes tormentas em nossa direção. Agora que se sabe um pouco mais dos perigos, a ciência vai tentar descobrir maneiras de proteger nossa civilização dessas supertempestades.
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