domingo, 29 de janeiro de 2017

Relatório da ONU alerta para possível crise mundial de água

De acordo com o relatório da ONU, o Brasil está entre os países que mais registraram estresse ambiental devido a mudanças realizadas nos fluxos naturais dos rios e que causaram maior degradação dos ecossistemas, com aumento do número de espécies invasoras, além do risco de assoreamento(Jonne Roriz/VEJA)

Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgado nesta sexta-feira estima que as reservas hídricas do mundo podem encolher 40% até 2030. Segundo o documento, há no mundo água suficiente para suprir as necessidades de crescimento do consumo, desde que haja uma mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento do recurso.

De acordo com a organização, nas últimas décadas o consumo de água cresceu duas vezes mais do que a população e a estimativa é que a demanda aumente 55% até 2050. Os desafios são muitos: o crescimento da população está estimado em 80 milhões de pessoas por ano, podendo chegar a 9,1 bilhões em 2050.

Os dados estão no relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 - Água para um Mundo Sustentável. Segundo o documento, a crise global de água é de governança, muito mais do que de disponibilidade de recurso, e um padrão de consumo mundial sustentável ainda está distante.

A ONU estima que atualmente 20% dos aquíferos - grandes reservatórios que concentram água no subterrâneo e abastecem nascentes e rios - estejam explorados acima de sua capacidade. Eles são responsáveis por fornecer água potável à metade da população mundial e é de onde provêm 43% da água usada na irrigação.

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Possíveis medidas - De acordo com Angela Ortigara, oficial de Ciências Naturais da Unesco na Itália, a intenção do documento é alertar os governos para que incentivem o consumo sustentável e evitem uma grave crise de abastecimento no futuro. "É importante melhorar a transparência nas decisões e também tomar medidas de maneira integrada com os diferentes setores que utilizam a água. A população deve sentir que faz parte da solução", diz.

"Grande parte dos problemas que os países enfrentam passa também por padrões de consumo, que só a longo prazo conseguiremos mudar, e a educação é a ferramenta para isso", diz Ary Mergulhão, coordenador de Ciências Naturais da Unesco no Brasil.

O relatório atribui o possível cenário de falta de água a vários fatores como a intensa urbanização, as práticas agrícolas inadequadas e a poluição. De maneira geral, para combatê-lo a Unesco recomenda mudanças na administração pública, no investimento em infraestrutura e em educação.

O documento foi escrito pelo Programa Mundial de Avaliação da Água (WWAP, na sigla em inglês) e produzido em colaboração com as 31 agências do sistema das Nações Unidas e 37 parceiros internacionais da ONU-Água. A intenção é que a questão hídrica seja um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que vêm sendo discutidos desde 2013, seguindo orientação da Conferência Rio+20 e que deverão nortear as atividades de cooperação internacional nos próximos 15 anos.

Brasil - Segundo o documento, o Brasil está entre os países que mais registraram stress ambiental. As mudanças nos fluxos naturais dos rios, realizadas entre 1981 e 2014, para a construção de represas ou usinas hidrelétricas causaram maior degradação dos ecossistemas, com aumento do número de espécies invasoras, além do risco de assoreamento.

Apesar do país já enfrentar problemas de abastecimento no Nordeste, a preocupação com a falta de água ganhou destaque com a crise hídrica no Sudeste. A ausência de chuvas no ano passado baixou o nível de reservatórios importantes de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que tiveram que implantar políticas restritivas de acesso à água.

Mergulhão diz que o Brasil tem uma grande reserva de água, mas é preciso investir em um diagnóstico para saber como estão as políticas de consumo, atenção à população e planejamento.

(Com Agência Brasil)
Veja.Abril

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