SAÚDE — Sinônimo de festa e encontro de amigos, o tradicional churrasco oferece riscos que podem ser minimizados com substituição das carnes utilizadas e moderação
Com o fim da Quaresma, o churrasco volta a atrair as atenções. Mas o prato, tão tradicional na gastronomia brasileira, pode representar um perigo à saúde. É o que explica o médico cardiologista José Rubens Rodrigues da Silva Júnior.
Segundo ele, o que torna o churrasco com uma ameaça à saúde é a quantidade de gordura contida nele.
“É justamente a gordura que aumenta os níveis de colesterol no organismo. Existem três tipos de gordura que contribuem para que isto aconteça: a saturada, a polisaturada e a insaturada. A principal fonte de colesterol nos alimentos é a gordura saturada, também presente nos animais e considerada a pior de todas”, contou José Rubens.
O cardiologista explicou que o aumento do colesterol pode provocar a formação de “placas” de gordura dentro dos vasos de sangue. Caso essas placas se formem em uma coronária, veia do coração, as chances de infarto aumentam significativamente.
José Rubens chamou a atenção para o fato de que o colesterol presente no organismo não é proveniente apenas da alimentação. Cerca de 70% dele é produzido pelo próprio corpo humano e é utilizado na produção de algumas substâncias, como hormônios.
“Todo mundo tem colesterol. O que a gente não pode é tê-lo em excesso, principalmente daquela fração chamada de colesterol ruim”, explicou.
Ele salientou que, embora nem todo o colesterol seja advindo da alimentação, a quantidade de gordura ingerida pode alterar significativamente seus níveis dentro do organismo.
Nesse ponto, o churrasco passa a ser considerado uma das grande fontes de colesterol, uma vez que em seu preparo são utilizadas as carnes mais ricas em gordura. “Normalmente as carnes mais saborosas como picanha, cupim e costela são aquelas contêm maior quantidade de gordura. Não só gordura aparente, mas sim no meio das fibras.
Na carne de vaca, por exemplo, 50% da gordura está no meio das fibras”, explica o cardiologista.
A carne de frango também é rica em gordura nas partes que contêm pele. “Esse é outro problema no churrasco. É difícil ver churrasco de peito ou filé de frango, partes sem pele e, por isso, sem gordura”, avaliou José Rubens.
Além da carne em si, o modo como ela é preparada também pode influenciar nos níveis de colesterol de quem a ingere. O especialista explicou que a gordura, após ingerida, passa por alguns processos de metabolização dentro do organismo, a chamada oxidação. É nessa oxidação que o modo de preparo pode influenciar, principalmente devido à quantidade de calor. “Nesse ponto o churrasco é considerado um dos piores meios de preparo. Com o calor muito alto, é como se a carne fosse ‘selada’, e a gordura fica toda lá dentro, não escorre.
Além disso, com a grande quantidade de calor, o processo de oxidação que deveria ser realizado dentro do organismo, já é iniciado antes da carne ser consumida”, explicou José Rubens.
No que diz respeito aos modos de preparo das carnes, o churrasco só é menos reprovável que as frituras. O cardiologista disse que com a utilização de algum tipo de óleo no preparo dos alimentos, além da gordura já existente na carne que está sendo preparada, ela poderá incorporar grande parte desse material, aumentando ainda mais o risco do colesterol.
O cardiologista chamou a atenção para os miúdos, como o tradicional ‘coraçãozinho’ de frango normalmente utilizado para carne de churrasco. Segundo ele, esta carne é a campeã em quantidade de colesterol. “A taxa diária geral de colesterol indicada é de 200 a 300mg, variando de pessoa para pessoa. Para se ter idéia, 100 gramas de coração de frango tem o equivalente a 2 mil mg de colesterol, isto é dez vezes mais que a quantidade indicada por dia. Quanto mais se puder evitar a ingestão deste alimento, melhor”, recomendou José Rubens.
A carne de porco, se aparentemente magra, é menos prejudicial do que a carne bovina. “Um lombo de porco, não contendo aquela gordura visível, é mais saudável que uma picanha por exemplo. Hoje existem ainda porcos desenvolvidos com baixo teor de gordura, o que é ainda melhor”, disse o cardiologista.
Além das carnes propriamente ditas, o churrasco possui outro fator de risco: as bebidas alcoólicas que o acompanham na maioria das vezes. José Rubens explicou que, em excesso, o álcool, além de provocar danos ao fígado, pâncreas e estômago, por interferir no metabolismo, acaba alterando a oxidação do colesterol.
por José Rubens Rodrigues da Silva Júnior.
Cardiologista/Uol Notícias
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