Se liga, mulher: você está no lugar errado. A sua simples presença ali significa que algo não deu certo. Você está em meio a uma família que ruiu. Acredite, isso não é divertido. Nem é pra ser. Mais ainda: você ser madrasta significa que este “dar errado” envolveu crianças que não tinham nada a ver com isso, e pagaram o pato. O maior pato de todos eles: ter que ver seus pais vivendo em casas separadas, brigando, juízes, advogados, almoços de vez em quando, viagens separadas, festas separadas, a eterna mochilinha nas costas.
Você sabe lá o que é JAMAIS voltar a ficar sozinho com seus pais novamente? Jamais viajar com eles ou almoçar com eles? Isso é o que uma criança filho de pais separados vai passar. E você ainda quer choramingar? Ó, coitada de mim, sou madrasta, sou odiada, etc? E se, mesmo assim, VOCÊ achar que tem um problema, querida, eu te garanto: não, você não tem um problema. Quem tem é aquele pequeno aí na sua frente. E os pais dele(s). Você pode escolher ser parte da solução, ou da confusão.
E o que podemos nós, madrastas que nascemos pra ser as bruxas dos contos de fadas, fazer pra sermos MENOS bruxas? Menos más? Menos insuportáveis? Enfim, pra ajudar aquela família que se quebrou a voltar a ter algum equilíbrio? SIM, nem você sabia, mas SEU PAPEL é importante e vale a pena se esforçar para que tudo dê certo. Vamos tentar?
#1 – VOCÊ NÃO É A MÃE DA CRIANÇA. Não, você não é. Preciso desenhar? Nãaaao. Você não pode dar pitaco na educação da criança. No corte de cabelo dela. No médico que ela vai. Se a mãe da criança lhe pedir, seja discreta e … aliás, nem fale. Não tem nada a ver com você. Se coloque no lugar da mãe dela, que péssimo alguém lhe dizendo como agir. Você jamais saberá como seria se fosse mãe da criança, porque ela NÃO É SUA. Você sempre vai pensar lá no fundinho que você faria melhor. Não se iluda. Você cometeria outros erros. E não tem o direito de interferir.
#2 – VOCÊ ESTÁ EM TERCEIRO PLANO. OU QUARTO. OU DÉCIMO. Acredite, se conforme. Confiança é coisa demorada pra se construir. Eu sou uma sortuda que teve a aprovação da enteada em alguns meses somente. Ou semanas, não me lembro. Mas claro que tivemos nossos percalços. Precisei de dois anos pra virar parte dos desenhos (este é papai, esta sou eu, esta é a mamãe. ah, esta aqui é você, ó.) Mas demorou 3 anos pra ela me dizer que eu era um personagem de desenho (a AmoraLinda é a mamãe, eu sou a Laranjinha e você é a Moranguinho! – uhu , lágrimas de bruxa madrasta rolaram).
#3 – VOCÊ NÃO TEM QUE SER MAIS LEGAL QUE OS OUTROS. Se você, como eu, convive no dia-a-dia com seus enteados, pare de querer ser tão legal. Você vai ver que se preocupar com eles, se comem, se estão com frio, se estão doentes, se estão entediados, se estão tristes, é normal e saudável. Mas querer levar pra passear todo dia, comer fora todo dia, dar presentes caros…é tudo balela. Acha que criança é besta? Eles percebem que estão sendo comprados. E comprar crianças por causa da sua culpa de ser uma desmancha-lares não vai mudar nada. Pare.
#4 – NÃO TENHA CIÚMES DA EX! Aqui eu queria poder gritar: SUA LOUCA! Pare de ter ciúmes da sua ex-mulher. Se é ex, é porque não deu certo. E não deu certo PRA VALER. Eu sempre penso que se uma mulher teve colhões de sair de casa sozinha carregando seus filhos no colo, é porque REALMENTE seu casamento tinha acabado. Ciúmes besta, ok, de leve, pro marido, em segredo, ok. Mas falar pros outros, pra ela, e principalmente, deixar isso afetar seu casamento e sua relação com seus enteados…ahvá. Pare. Não precisa virar amiga da ex. Eu, virei. Mas somos exceção e vamos um dia ficar ricas e famosas levando palestras pra mães e madrastas desesperadas sobre como passar por cima de tudo isso e se tornar amigas.
#5 – VAI TER FILHOS PRA RESOLVER TUDO? CUIDADO. Ah, vou engravidar de raiva. Só pra poder TAMBÉM ter um filho com ele. O MARIDO. O DISPUTADO. Sabe o que vai passar na cabeça do filhos do seu marido? Acredite, é complicado formar uma nova família diante de uma criança que te vê como “a outra”. O filho do outro casamento pode ter as reações mais legais, ou terríveis, e esteja preparado pra lidar com isso. Ele pode amar ou odiar o irmão. Veja lá como vai lidar com isso.
#6 – COMPORTE-SE NAS FESTAS! Você não precisa ir no salão fazer um penteado gigante porque vai na festinha do enteado. Eles só te convidaram porque seria mega estranho você não ir. Mas você não é o prato principal da festa. São os pais, e a criança. Eu tiro as únicas fotos que os filhos terão com seus dois pais juntos. Fico atrás das lentes. Acho importante ter inclusive em casa estas fotos. Ou você não ia achar bizarro, lá pelos seus 20 anos, reparar que não tem mais UMA SÓ FOTO dos seus pais juntos com você?
#7 – CUIDE DA CRIANÇA. Você é mãe também? Se for, sabe do que estou falando. Se não, saiba que as crianças precisam de cuidados que nem sempre os pais sabem ou tem facilidade de fazer. Eu faço tranças diferentes na minha enteada. Vejo se as roupas estão combinando. Compro um adesivo besta pra unhas. Levo toalha no banheiro e ponho o shampoo onde ela alcance. Sei que ela gosta de tal tipo de bolacha, e compro no mercado antes dela vir. Já dei muito banho e já limpei muito bumbum. Comprei uma cama pra ela (apesar de na época nem dormir em casa!), porque achava importante ela ter o espacinho dela na casa do pai dela. Você vai deixar tudo pro marido? Quer fazer a criança sofrer, por quê?
#8 – CUIDE DA GRANA. Eu que administro o dinheiro em casa. Se este é seu caso, madrasta, faça questão que o marido pague as contas das crianças. Compre roupas, sapatos, livros se precisar. E pague a pensão em dia. Eu que lido com isso aqui, e acho que isso ajuda muito na relação dos pais. Eles já tem seus stress, suas brigas passadas, seus problemas ainda não totalmente resolvidos. Eu prefiro que isso fique bem certo. Para evitar mais atritos, sempre latentes em casais que brigaram tanto que, claro, se separaram.
#9 – TENHA UM TEMPO SOZINHA COM SEUS ENTEADOS. Faça algo que você gosta e sabe fazer. Saia com eles só você. Sem o pai. E também deixe o pai sozinho com eles. Todos vão sair ganhando. Eu gosto de sair andar com a minha, sem a irmãzinha (que é minha filha com o pai dela). A gente conversa mais, convive mais. Descobri coisas ótimas sem ele por perto. Afinal, somos meninas, a gente se entende.
#10 – RIA MAIS. Ok, nossa situação não é das mais divertidas. Nem sempre é fácil. Conheço gente com graves problemas com seus enteados. Má-educação, destrato, isso não é aceitável. Nem da parte deles, nem da sua. Mas rir da situação ajuda. Eu sempre leio histórias de princesas pra minha enteada, e vou modificando a parte das madrastas. Ela já ri das bruxas olhando pra mim na hora. Sempre digo que tenho uma enorme verruga no nariz, de acordo com as histórias. Vamos deixar mais leve esta convivência, que tal?
por Conversas ao Meio-Dia
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