terça-feira, 15 de novembro de 2016

Relações Misóginas



Quando publiquei o texto “5 Tipos de Homem para Esquecer” - crônica que brinca com perfis masculinos que darão dores de cabeça para uma relação, citei (então de forma séria sobre Misoginia,muitas mulheres entraram em contato comigo contando suas experiências afetivas. 
Várias mencionavam relacionamentos com misóginos. Motivada por esses apelos, volto a falar sobre o tema. O texto que segue, foi escrito após longa pesquisa e conversas com médicos psiquiatras, numa tentativa de elucidar e convidar todos a discussão. 

O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Após certo tempo de relacionamento, o parceiro que tratava você com extrema gentileza e educação, começa a mostrar um comportamento avesso. O homem amoroso sai de cena, deixando emergir um lado perverso. Insultos, maus-tratos, acessos de raiva, reclamações excessivas, críticas constantes e torturas psicológicas fazem parte desse cenário devastador – que deixa a mulher perdida, confusa, sentindo-se culpada, inadequada e oprimida – seja pela mudança brusca de comportamento do parceiro, seja pela relação e situação que se instala.
Ela sem compreender muito bem, começa a perguntar-se: “o que está acontecendo?”
Eis a Misoginia. Um assunto bastante sério e muito, muito delicado. Algo que acontece a perder de vista com mulheres no mundo todo e por isso mesmo merece ser discutida. Esqueça métodos esdrúxulos com requintes de crueldade e agressões físicas (eles não são regras). O estrago é feito no dia a dia da convivência e pode ser bastante sutil no início, mas ainda assim, corrosivo. Afinal, as palavras também são armas abusivas. E na relação opressor-oprimido, sempre alguém acaba perdendo a voz, geralmente, a mulher que se submete a esse tipo de relação.
Nem sempre é fácil detectar uma situação dessas. Principalmente, quando se trata de uma relação amorosa. É difícil acreditar que o cara que você ama sofra de uma alternância comportamental abrupta do tipo. A sensação é um constante pisar em ovos. Pensamentos possíveis são: “o que eu fiz agora?”, “o que há de errado comigo?”, “Por que ele me trata assim?”, “Por que ele me trata tão mal se diz que me ama?” Chega a parecer surreal pensar que exista no parceiro um prazer velado ao desprezo e humilhação. Mas é exatamente isso que acontece. E a sensação que muitas mulheres descrevem é de estarem “dormindo com o inimigo.”
O QUE É MISOGINIA
O termo Misógino provém do grego miso (odiar) e gyne (mulher) e refere-se ao ódio às mulheres ou ódio ao feminino. Significa desprezo ou aversão às mulheres, repulsa mórbida - que é alimentada pelo homem de forma inconsciente, sem significar que ele tenha asco às mulheres ou seja homossexual. Misóginos são, aliás, facilmente confundidos com machistas – e até o são. Mas que fique entendido que nem todo machista é misógino. A distinção é que o machismo acredita na inferioridade da mulher e a misoginia fundamenta-se no ódio e no desprezo. Assim, são estabelecidas relações conturbadas onde o homem é o opressor e a mulher a oprimida.
COMO E POR QUE OCORRE
O entendimento da misoginia pode ser alcançado a partir da análise do histórico familiar ou amoroso do homem. Geralmente, são filhos de relacionamentos conturbados que aprenderam pela observação dos pais, que a melhor forma de controlar uma mulher é oprimindo-a. Também podem ter sofrido frustrações e traumas em relacionamentos amorosos anteriores, como um fora doído ou traição.
Embora o trauma sofrido seja anterior, é na parceira que ele desconta sua raiva e frustração. Sua ira é manifestada basicamente contra ela - excluindo o julgamento depreciativo a outras mulheres. Seu alvo é tão definido e direcionado que pessoas que o conhecem socialmente, custam ou até mesmo não conseguem acreditar no seu comportamento opressor e violento. Até porque para proteger-se e eximir-se do sentimento de culpa, o misógino distorce a realidade a seu favor.
A verdade é que ele está em sua fase adulta atuando com o ego infantil. Ele ama mas não sabe cuidar desse amor. Deseja entregar-se, mas seu grande conflito psíquico está entre a necessidade do amor de uma mulher e o medo profundo das mulheres. O medo existente também se refere ao contato com seu mundo interno, tanto que não suporta avaliar seus próprios sentimentos, não conseguindo atingir uma maturidade emocional.
Dentre as principais dificuldades encontradas ao se relacionar com um misógino estão os ataques pessoais, o desvio de culpa, as constantes tentativas de levar à falsa crença de que coisas aconteceram de forma diferente – o que faz a parceira duvidar e questionar a própria memória. Ele tenta o controle total da relação e ao não conseguir, começa com ataques compulsivos e acessos de raiva contra ela. Em sua visão, todos os problemas do relacionamento são culpa da mulher. Ele é apenas a vítima.
DANOS CAUSADOS À AUTOESTIMA
Como qualquer tipo de patologia, existem diferentes graus e há riscos à integridade física e psicológica feminina. Entretanto, neste tipo de relação, o principal estrago diz respeito à autoconfiança e autoestima da mulher, que fica profundamente abalada ou até mesmo aniquilada. Se antes ela estava fortalecida, acaba tornando-se frágil e insegura. Leva um tempo até ela entender que não é culpada pelo temperamento e atitudes do parceiro. Vive-se muita tristeza, mágoa e ansiedade.
A maneira menos recomendada de relacionar-se com um misógino é através da conivência, embora não seja preciso sua participação efetiva para que ele tome uma atitude negativa contra você. Mesmo que as agressões sejam apenas verbais é importante saber que incitação ao ódio é crime. Muitas vezes, as mulheres sofrem abusos emocionais e não têm consciência disso. Tornam-se vítimas de homens manipuladores e controladores, que desejam estar constantemente no comando.
RETOMANDO A PRÓPRIA VIDA
Se você desconfia que possa estar vivendo um relacionamento tóxico, não deixe de procurar ajuda profissional para entender a partir da visão de um especialista, o que está acontecendo. É fundamental o apoio para voltar a trabalhar a autoestima e resgatar o amor ao eu. É importante uma análise sincera e corajosa para tentar entender o que leva você a submeter-se a este tipo de relação. Seria o medo do parceiro? O receio à solidão? A perda do amor? Várias perguntas são possíveis e pertinentes. Com auxílio, descobre-se como quebrar o padrão de comportamento que constitui tal círculo vicioso.
Quanto ao misógino, o grande desafio é ele reconhecer que existe um problema (poucos buscam ajuda especializada) e aceitar viver uma relação lado a lado e de igual para igual com a parceira. Caso não consigam, desistirão por não submetê-la as suas próprias vontades.
Se você sofre ou já sofreu este tipo de abuso moral, psicológico e/ou físico, busque retomar o comando da própria vida. Uma relação é feita a dois e ambos devem ter voz ativa. Todas nós corremos o risco de sermos vítimas do sexismo, e a melhor forma de evitarmos esta violência é através da informação e do conhecimento.
Sugestões de filmes e leitura:
Magnólia – Paul Thomas Anderson
Morangos Silvestres – Ingmar Bergman
Os homens que não amavam as mulheres – Stieg Larsson
Homens que odeiam suas mulheres e mulheres que os amam – Susan Forward e Joan Torres
Gabriela Gomes
gabrielagomes.com.br

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