Uma das heranças mais marcantes de minha formação liberal foi a de atentar ao contraditório – ouvir os argumentos divergentes e analisar no que eles podem enriquecer minhas próprias perspectivas e, se necessário, mudar minha posição. Isso, na tradição que me moldou, não é sinal de fraqueza; é, antes, um passo para a maturidade intelectual. E qualquer pessoa, especialmente alunos, que tenha convivido com minha persona de “advogado do diabo” percebe o quanto isso está integrado à minha personalidade (quando, por exemplo, defendo uma posição frequentemente contrária à minha própria só para incitar um debate acerca dum dado problema).
Um grande professor e amigo que tive em minha primeira alma mater, e cujas ideias ainda me influenciam, costumava dizer que “desumanizaríamos as humanidades” (um de seus trocadilhos clássicos) se não desenvolvêssemos a capacidade de pensar criticamente acerca das ideias que abraçávamos e às quais éramos expostos. Lidar com as humanidades – ou “ciências humanas”, se preferirem –, para meu professor, implicava em lidar com a diversidade de ideias “racionalmente”, continuamente questionando nossas próprias posições.
Quando testemunho as “discussões” (?) nas quais se engajam certos intelectualoides humanistas, não consigo evitar pensar sobre qual seria a resposta de meu antigo professor se os ouvisse.
A verdade, para mim, é que muitos têm se tornado papagaios idiotas na era do Facebook: repetem muitas ideias vazias, com baixíssima qualidade argumentativa, e xingam aqueles que discordam de si – como se isso servisse de cartão de visitas intelectual! Assim, aqueles de quem discordam são facilmente identificados como “fascistas”, “fundamentalistas”, “intolerantes”, “comunistas”, “esquerdistas”, “coxinhas” (direitistas), e sei lá mais o quê (a depender de sua lealdade ideológica) – e esses nobres porta-vozes da idiotice coletiva envergonham qualquer sombra de racionalidade crítica.
E o triste, para mim, é que muitos dos que fazem parte dessa atividade para desocupados – o linchamento virtual dos que defendem uma posição contrária – são os “ilustrados” das humanidades... Pelo jeito, as onipresentes leituras pós-modernas às quais foram expostos não foram suficientes para salvá-los da ignorância e, assim, podem deleitar-se com seu eterno status de idiotas virtuais!
E o antídoto? Há?... Sim: abandonem o vazio do Facebook e voltem-se aos livros (isso, obviamente, é apenas uma metáfora, mas pode ser útil a alguns se cumprirem-na ao pé da letra!). Pesquisem sobre as ideias que lhes aborrecem. Aprendam sobre as posições daqueles que tanto adjetivam. Questionem a si próprios. Você não será nem imitação de intelectual, se não conseguir argumentar. E, para argumentar, deve haver empatia – na realidade, a empatia é indispensável para que sejamos humanos plenos –, assim como conteúdo inteligível...
E, para reforçar um conselho daquele meu antigo professor: pense duas vezes antes de repetir o que parece óbvio demais!
por Gibson da Costa
Fonte: gibsondacosta.blogspot.jp
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