Confesso: sou um dependente da aprovação alheia. Preciso me sentir amado para me sentir bem. E sofro crise de abstinência quando as pessoas ao redor são pouco carinhosas comigo. Sem o aplauso, sem o sorriso cúmplice, sem o ambiente acolhedor, eu não vivo.
O mero tratamento neutro me soa sempre como agressão, como postura hostil.
Tem muita gente como eu por aí. Talvez você mesmo seja um de nós. Ainda que não venhamos a nos organizar num AAA em que os dois últimos “as” signifiquem “aprovação alheia”, uma coisa é certa: precisamos nos tratar.
Quem tem essa dependência se coloca refém do humor alheio. Se alguém é áspero com você, você se culpa e se responsabiliza por isso. Se a outra pessoa é rude, você se preocupa, olha desconfiado para a própria conduta, se desestabiliza emocionalmente.
Os dependentes da aprovação alheia se tornam, com o tempo, seres frágeis. Patéticos até, em sua hipersensibilidade, em seu melindre crônico. Ao colocarem sua felicidade em mãos alheias, se tornam pessoas facilmente manipuláveis. Ao definir sua tranqüilidade em relação a elas mesmas a partir do olhar dos outros, abrem uma brecha enorme em sua auto-estima. Não falta no mundo gente que perceba essa porta aberta e a use para jogar com a carência de afeto. Trata-se dos predadores emocionais. É preciso ter cuidado com eles. Gente que faz desse assédio afetivo uma afiada arma de competição, de ascensão social, de exercício de poder sobre o outro.
Por isso admiro quem não dá a mínima para os outros. Quem nasceu blindado contra o poder da opinião alheia, do que possam pensar ou sentir ou dizer a seu respeito. Pessoas assim se respeitam mais, se preservam mais. Resolvem suas inseguranças de outro modo, sem expor o traseiro nu na janela. Com isso, imagino, sofrem menos.
Essas pessoas sabem que no fundo estamos todos sozinhos neste mundo. E que a opinião que realmente conta sobre elas é a delas mesmo.
Por Adriano Silva
Revista Época
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