O que fazer com a Agressividade?
As histéricas de Freud se auto-agrediam. Jogavam a raiva no corpo na forma de sintoma. Primeiro buscamos o amor.
Aprendemos que amar é condição para a felicidade. A cultura entendeu que é possível construir um homem civilizado, amável, dócil e gentil. Entendeu que a educação poderia eliminar a agressividade do homem. Ledo engano! Não existe a razão pura.
A raiva aparece entremeada na razão. Planejamos e nos organizamos.
Ocorre que – quase sempre – as coisas não saem exatamente como gostaríamos. Nossas fantasias podem não ser correspondidas. Daí advêm a raiva.
Não há amor sem ódio. Só não odeia quem nunca perdeu. O que fazer com a raiva dos nossos fracassos? As histéricas de Freud adoeciam porque temiam externalizar seus ódios. Hoje as pessoas estão mais predadoras. De fato, tem sempre alguém no caminho de nossos fracassos. Alguém sempre se nega a fazer nossas vontades.
Pode ser uma pessoa. Pode ser um grupo de pessoas. Pode ser o destino. Pode ser a natureza. Pode ser Deus. Era amor porque existia a expectativa de ser correspondido. Agora é ódio pelo desafeto. Qual a finalidade da raiva? Trazer de volta o amor negado. Tentar forçar a vontade do outro.
Quanto mais livres somos, mais ódio provocamos nos outros. Especialmente para aqueles mais narcisistas que não aceitam perder. Especialmente para aqueles acostumados a ganhar sempre. Especialmente para aqueles acostumados a ficar sempre por cima. Forçamos a vitória, quando desconhecemos o outro como um sujeito de direitos.
A revolta é vaidosa. A calúnia é egoísta. A mentira é gananciosa. A agressão só se justifica por legítima defesa. É preciso muito discernimento ao odiar. É ridículo disseminar a raiva para tentar virar o jogo. Nas relações de poder é salutar respeitar a vontade da maioria. A saída pelo ódio é facismo. O ódio disseminado pode retornar contra si mesmo …
Autor: Evaristo Magalhães – Psicanalista
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