Os anos 1980 marcaram o surgimento de um interessante personagem chamado de yuppie. Trata-se de uma expressão reduzida para “young urban professional”, ou seja, “jovem profissional urbano”, representando uma classe de profissionais entre 20 e 35 anos, emergentes e em ascensão no mercado de trabalho, caracterizados por serem gananciosos, buscando o sucesso a qualquer preço, além de muito consumistas e pouco simpáticos. Excelentes exemplos são Bud Fox, protagonista do filme “Wall Street – Poder e cobiça”, vivido por Charlie Sheen, e seu tutor, o magnata Gordon Gekko (Michael Douglas, em uma de suas melhores atuações).
O crash da Bolsa de Nova Iorque em 1987 jogou esta turma na berlinda e os anos 1990 trouxeram-nos o culto à ética, à responsabilidade social e ao politicamente correto.
Mas vivemos num mundo de aparências e de manipulação. Enron, Parmalat e Banco Santos não foram exceções à regra. É lamentável, mas o fato é que empresas idôneas, em especial as de pequeno porte, apenas podem se credenciar ao crédito bancário “ajustando” seus dados econômicos, informando faturamento maior do que o real e apresentando demonstrações de resultado mais saudáveis do que são. Pouco importa se o seu plano de negócios é excepcionalmente bem estruturado, se a atividade é economicamente viável, se você tem expertise e know how para entrar no jogo corporativo. Papel aceita tudo e é isso o que gerentes e analistas de crédito desejam ver.
Participei de uma palestra ministrada pelo diretor de um grande banco. Uma de suas tônicas era a transparência nas informações prestadas pelo cliente. Balela. A instituição financeira faz pose de parceira, mas na prática coloca sua máscara. Recusa uma operação de crédito formada por um título legítimo porque o valor é elevado (eles chamam isso de “grande concentração”), mas acatam uma duplicata sem lastro sacada pelo empresário contra a empresa de um amigo.
Vejo universitários que participam de Centros Acadêmicos e outras atividades defendendo mudanças na estrutura curricular, no corpo docente, no sistema de avaliação, mas que enquanto estudantes negligenciam suas tarefas mais elementares e apresentam desempenho medíocre.
Já presenciei em eventos sociais colegas que se reencontram e trocam abraços efusivos, conversando animadamente por horas e que, após se despedirem, disparam críticas de toda ordem uns contra os outros.
Relacionamentos conjugais capitulam e clientes outrora fiéis passam para a concorrência porque as relações tornam-se incongruentes. Discurso e prática não se alinham. A propalada transparência não tem autenticidade. As pessoas deixam de dizer a verdade, esquecendo-se de que não há meias-mentiras. Assim, a hipocrisia viceja.
Como disse Gordon Gekko, “Estou nesse negócio desde 1969 e sei que esses caras que vêm de Harvard não são ninguém. Quero gente esperta, ambiciosa e sem sentimentos. Você ganha, você perde e continua lutando. E, se precisar de um amigo, compre um cachorro”.
Nossa crise é de valores. Os yuppies eram pouco agradáveis. Mas eram mais espontâneos.
Autor: Tom Coelho
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