domingo, 5 de junho de 2016

Ojuara e a Associação dos Cornos



Como funcionário público, trabalhando há 15 anos na Câmara  Municipal do Natal, seu registro profissional é Fábio Ferreira de Araújo, mas como artista plástico e presidente da Associação dos Cornos Potiguares, é conhecido como Fábio di Ojuara. Nasceu e foi criado em Natal, morou um período em Recife onde obteve seus primeiros contatos com a arte e, atualmente, mora em Ceará Mirim. Fábio afirma que levou chifres da primeira mulher por oitos anos consecutivos. “Agüentei porque era uma mulher linda e gostosa. Descobri que ninguém consegue comer sozinho uma melancia grande e uma mulher bonita”, frisou. Fábio destacou que passou um tempo sofrendo, sem acreditar no que acontecia - característica de um corno ateu. “Passei mais de um ano aperreado, querendo que ela voltasse e sentindo uma dor de corno danada”, completa.

O MOSSOROENSE - Você que entende de chifres, qual seu primeiro “recado” para os leitores?

Fábio di Ojuara - O Ministério dos Cornos adverte: ao terminar de ler esta entrevista, se não desaparecer os sintomas do seu chifre, procure imediatamente um psicanalista. Seu caso é patológico e perigoso.

O M - Como foi levar chifre oito anos seguidos?

FO - Depois dessa primeira experiência, assumido a condição de corno, fui pesquisar o assunto. Descobri que chifre nunca foi um problema. Cheguei a conclusão que tudo não passava de uma simples terminologia do universo da traição conjugal. Chifres foi feito para homem, o boi usa de atrevido. Descobri que a fidelidade no casamento tem que ser facultativa. A mulher moderna, desse novo milênio, tem um lema em relação a chifre: botou, levou.

OM - Como surgiu a idéia de criar a Associação dos Cornos Potiguares?

FO - Vi que o número de cornos era grande no Estado e, além do mais, há associações de prostitutas, de empregadas domésticas, de gays, enfim, de tudo no mundo há alguma associação. Então, pensei: “corno também é gente” e resolvi criar a nossa associação que vem aumentando o número de filiados a cada dia.

OM - Quantos associados tem a ACP?

FO  - Eu já perdi as contas. No início, eu ainda controlei o cadastro, mas agora perdi as contas. Todo mundo quando me encontra na rua diz que quer entrar na Associação dos Cornos Potiguares e possuir uma carteirinha de corno oficial. Contei até 350 associados, depois, perdi a conta. Agora, estou empenhado para organizar toda a papelada, transformando a Associação dos Cornos Potiguares em uma associação de utilidade pública com sede, estatuto e tudo mais. É necessário que o corno colabore também com uma entidade que pertence a ele mesmo.

OM - Então, essa organização que o senhor quer fazer é para que a associação crie condições de dar apoio psicológico e jurídico aos cornos?

FO - Exatamente. Unidos, os cornos têm condições de pagar um advogado para que a mulher não tome tudo dele. Mesmo levando chifres, o corno pode manter parte do seu patrimônio. O Ministério Público oferece um advogado ao corno, mas tudo fica mais lento. Agora, eu mesmo dou conselhos aos cornos, fazendo um trabalho psicológico, falando sobre minha experiência e mostrando que chifre não é nada de mais. Nossa associação também quer criar uma creche para aqueles cornos que são deixados com uma ruma de crianças, enquanto a mulher foge com o pé de lã.

OM - Qual o perfil do corno potiguar?

FO  - É o melhor corno do Brasil, o mais consciente. Em todo lugar do mundo há cornos de todos os tipos. Vejo relatos que chegam em nossa associação de muitos casos de homicídios em São Paulo, onde o corno mata a mulher no meio do desespero. No Rio Grande do Sul e Paraná já houve casos de suicídio porque o coitado do corno não agüentou a pressão na cabeça. Hoje, o corno potiguar é um “corno light”, que conversa abertamente sobre seu problema, convive com a mulher, mesmo sabendo que está levando chifres. Eu andei pesquisando em delegacias da cidade e o índice de crimes passionais é quase zero por cento.

OM - Para fazer parte da associação tem que ser corno ou uma pessoa simpatizante pode entrar?

FO - Aquele que gosta do assunto, mesmo sem ser corno (o ateu), pode participar da nossa confraria. Alguns têm curiosidade para saber a reação de um corno quando está levando chifres. Outros preferem ouvir as conversas entre os associados para saber a resenha das últimas novidades na cidade. Afinal, chifre sempre despertou a curiosidade alheia.  

OM - Ojuara, como você se sentiu na primeira vez que levou chifres?

FO - Eu passei quase um ano chorando feito um menino novo, com saudades e uma dor no peito que não se acabava. Quando conto a história, muita gente não acredita. Um dia, cheguei em casa às nove da noite, cansado do trabalho, doido pra tomar um banho, dar um cheiro na mulher e dormir. Mas, logo escutei um barulho e fui olhar devagarzinho. Vi o cabra fungado em cima da mulher. Na mesma hora, deu um nó na goela, fiquei sem saber o que fazer, mas não fiz nada. Eles não me viram. Ela nunca falou em me deixar, mas continuava se encontrando com o vizinho. Nessa época, eu não estava preparado para ser corno e sofri uma barra pesada muito grande até me acostumar.

OM - E quando o sujeito passa a gostar de levar chifres, como fica a situação?

FO - Depois que o corno alcança certa experiência no assunto e descobre que chifre não é nada de mais, ele vive feliz com qualquer mulher. Atualmente, vivo com uma mulher que não quer botar chifres em mim. Ela diz que quer ser diferente das outras mulheres.

OM - Mas, isso não descaracteriza um pré-requisito básico da associação dos cornos?

FO - Não. Eu já levei muito chifre antes e não existe um ex-corno. O cabra quando é corno, vai ser corno pelo resto da vida. É um sentimento que fica enraizado feito uma cicatriz na memória.

OM - Como surgiu a idéia de lançar o livro “Sabendo usar... chifre não é problema”?

FO  - O livro é uma junção de tudo que pesquisei, um fruto da minha experiência como corno. Depois que descobri que havia um universo de corno com problemas semelhantes, resolvi ajudar aos meus irmãos que não têm a maturidade para entender a importância do chifre. Esse livro é como se fosse a ‘Bíblia’ dos cornos. Um livro para qualquer um ter na cabeceira da cama e ser consultado toda noite, antes de dormir. Por outro lado, o chifre também é folclore presente na literatura de cordel, nos textos de Nelson Rodrigues e outras manifestações artísticas. A primeira edição já está esgotada, mas pode ser encontrado nas livrarias de Natal. Estou trabalhando para fazer a segunda edição ampliada do livro. O livro também é carregado de mensagens filosóficas que vai fundo no leitor.

OM - Quais são os tipos de corno?

FO - Existem dezenas, entre eles: Corno Vidente - tem pressentimento toda vez que leva chifre; Corno Perito: examina a mulher quando ela chega em casa; Corno Cofre; cheio de segredos; Corno Garçom: vive entregando a mulher de bandeja; Corno Turista: a mulher fica planejando viagens pra ele; Corno Camaleão: quando vê a mulher, muda de cor; Corno Religioso: no dia que leva chifre, entrega a Deus; Corno Cigano: muda de lugar a cada chifre que leva; Corno Padeiro: além de corno, queima a rosca; Corno Consórcio: vive ansioso, esperando ser contemplado com um par de chifres.

OM - Existem provérbios para cornos?

FO  -  Muitos! Vou dizer alguns: Um chifre só se cura com outro chifre; Cada um tem o chifre que merece; Corno só é solidário no chifre; Chifre é como ferida, se não tratar demora a curar; Corno que ama não mata; Chifre não é para todo mundo, mas está ficando cada vez mais popular.

Fonte: Jornal O Mossoroense

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