domingo, 19 de junho de 2016

Selfie: modinha ou era do exibicionismo digital?

 



O ato de se fotografar sempre esteve presente na vida das pessoas, mas hoje um fenômeno intitulado Selfie, termo inglês usado para denominar um auto retrato, que foi escolhido a palavra do ano pelo dicionário Oxford, a cada dia ganha mais adeptos. O fenômeno se prolifera nas redes sociais numa velocidade estrondosa e um número maior de pessoas se rendem a sua força. O que para muitos pode ser uma forma de fazer parte da “modinha” que se criou em cima do ato de se fotografar, para alguns psicólogos pode demostrar insegurança e, até mesmo, baixa estima. Para o psicólogo da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Ricardo Costa, a montagem de situações para se ter a selfie perfeita é sinal de alerta. Para ele, selfie se tornou algo social, e estar fora do Instagram e Facebook é ficar a margem da sociedade. “É como ser alguém invisível”, diz Ricardo.

O fenômeno serve para que ressurja o Narcisismo, o culto ao corpo, a vontade de ser diferente e isso faz com que as pessoas busquem essa diferenciação na tentativa de se afirmar através de marcas, lugares e atitudes. É muito comum ver jovens reunidos em torno de uma mesa, num bar e estarem “marcando o momento”. Em poucos segundos, a foto está no Instagram gerando “likes” e comentários. “Porque todo mundo precisa ver que eu estou em determinado lugar, porque se precisa compartilhar? Que necessidade moderna é essa?”, questiona Ricardo. 

Para o psicólogo, isso demostra insegurança e uma necessidade de se afirmar, “uma pessoa segura não publica foto toda hora buscando curtidas”, explica. Para ele, essa necessidade por curtidas, se não atingida, pode levar a doenças psicológicas como o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e em casos mais graves ao suicídio. A estudante de Serviço Social da UFPI, Mariana Rodriguez diz que “é um meio de você se divulgar, porque mesmo que não use a hastag, (símbolo equivalente ao #) você fica olhando para ver se estão curtindo ou comentando. E isso é legal!”. 

Marina diz ainda que compartilhar foto é normal, mas a grande vantagem é mostrar para outras pessoas onde se está frequentando “não tem graça se você sai para um lugar e não dizer onde você está ainda mais se for um lugar conhecido”, finaliza Marina.


Pesquisa recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra o retrato do Brasil nas redes sociais e os dados apontam que a maioria dos usuários, 74%, está na faixa etária de 16 a 24 anos e na sua maioria são mulheres com 50% e homens, 47%; 70% dos usuários estão na faixa etária de 10 a 15 anos. A pesquisa aponta ainda que a classe A lidera as postagens com 94%, seguida pelas B e C com 80% e 47% respectivamente, as classes D e E possuem apenas 14% das postagens. Segundo a amostragem 31% das pessoas na faixa etária de 45 a 59 anos também usam as redes sociais. Os dados chamam atenção para o fato de que 8% dos usuários têm 60 anos ou mais. Relacionado ao grau de instrução 93% estão no ensino superior, 72% no ensino médio e 30% no fundamental. Quanto à frequência 69% dos entrevistados publicam diariamente e apenas 7% publicam uma vez por mês.


O sociólogo Benedito Carlos de Araújo diz que estamos vivendo em uma sociedade ultramoderna na qual a comunicação ultra veloz marcada pelas redes sociais fazem com que as pessoas sejam cada vez mais “camaleões”, ou seja, tenham que se adaptar a mudanças diárias. “Essas mudanças fazem com que surjam tribos contemporâneas que se identificam com determinado tema e as relações passam a ser sobre essa identidade”, explica.

O termo identidade assegura hoje a continuidade do individuo, do grupo e da própria sociedade; num percurso de permanente mudança, ruptura, crise, readaptação, reivindicação e ate mesmo de sobreposição de identidades. Notadamente o que se percebe é que com uma velocidade cada vez maior as pessoas “mudam” de identidade. Hoje ninguém é mais um ser “exclusivo”, exclusivo usa-se aqui como único, diferente dos demais; já que para fazer parte de tribos modernas o cidadão tenha que se adequar aos vários cenários que se desenham na sociedade. Uma pessoa pode se identificar com um estilo musical e se adequar aquele grupo e zapear em outros totalmente diferentes entre si sem sofrer grandes consequências.

Teóricos como Stuart Hall afirmam que essa mudança é reflexo do colapso de identidade nas sociedades modernas. Esse colapso está mudando as noções de paisagem, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que no passado tinham bases solidas.  Dessa forma para Hall as identidades são construídas em meio à relação de poder, fundadas sob a égide da exclusão. Ou seja, quem não está participando do fenômeno selfie, de certa forma acaba sendo excluído da vida social.

A estudante Adriana Lavol, 19 anos, diz que “eu acho de certa forma besteira porque todo mundo antes já fazia. agora deram um nome para uma coisa que sempre existiu. A modinha não é tirar foto da câmera frontal do celular, mas o nome que inventaram”.

O sociólogo diz ainda que as relações sem forma definida levam a um processo de identificação volátil e rápido. “A sociedade está fragmentada, nos vivemos num mundo muito misturado e isso só está acontecendo graças aos meios de comunicação.” Benedito cita o sociólogo Stuart Hall numa tentativa de explicar o fenômeno, ele fala que o que está acontecendo é uma identificação, que é um processo continuo e não se fixa em nada. “Os jovens sentem uma necessidade de seguir o que os outros da mesma idade estão fazendo, por isso o selfie tem tantos adeptos. Daqui a dez anos vai ter outro fenômeno” finaliza.

por Geovane Lucas


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